Número de pessoas que morrem em casa cresceu 5 vezes durante a pandemia
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) está dando uma ajuda às famílias que perdem seus parentes dentro de casa e, no meio da pandemia, têm dificuldades em conseguir emitir um atestado de óbito – documento necessário para liberar o corpo para o sepultamento.
Essa preocupação é decorrente do aumento do número de pessoas que estão morrendo dentro de suas casas durante a pandemia do coronavírus. Segundo a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), o número de mortes saltou de uma média 40 por mês antes da pandemia para 210 no último mês de maio. Um aumento de mais de 5 vezes.
O pai do mecânico Sandro Henrique**, 27, foi uma dessas pessoas. Na última sexta-feira, o homem de 58 anos faleceu dentro de sua casa no bairro da Mata Escura. Uma equipe do Samu foi acionada e fez o atendimento à família.
“Foi tudo muito rápido e a gente não sabia o que aconteceu. Ele estava bem no início da semana, aí começou a ter febres e dificuldades de respirar entre quinta e sexta, o dia que ele faleceu”, conta.
Coordenador do Samu, Ivan Paiva explica que o serviço fez a contratação de dois médicos para fazer esses atendimentos específicos. A equipe é formada pelo médico e um técnico de laboratório que faz os exames que vão apontar a causa da morte.
Foto: Tiago Caldas/CORREIO |
“A equipe se desloca em um carro administrativo justamente para não tirar uma âmbulancia que pode fazer o transporte de pessoas na regulação ou fazer atendimentos de urgência da rua. Essa não é uma atribuição do Samu, mas nos compadecemos com a situação de várias pessoas que tem dificuldade de emitir uma declaração de óbito. São casos de que até na hora de morrer há pessoas que encontram dificuldade, então precisamos cuidar desse povo”, explica o coordenador.
O número elevado de pessoas morrendo dentro de casa é uma preocupação da SMS, de acordo com o secretário da pasta, Léo Prates. Ele afirma que o Samu também está oferecendo suporte ao Governo do Estado e à Central de Regulação na transferência de pacientes de UPA’s para hospitais ou de unidades não-covid até centros de referência específicos para o tratamento de coronavírus.
“O nosso objetivo é salvar vidas, mas se não conseguirmos a gente tem que dar a essas famílias o direito de se despedir com dignidade”, disse o secretário.
Dono da Funéraria Fonte Nova, no bairro de Nazaré, Marcelo Picón aponta que o número de sepultamentos feitos por sua empresa disparou neste ano. Em maio de 2019 foram 22 serviços funerários realizados: quase metade dos 40 sepultamentos realizados no mesmo mês deste ano.
Ele ainda aponta que do início de junho até o início da tarde do dia 18 do mesmo mês já foram 24 serviços e 16 deles foram de pessoas vítimas da covid-19.
“A logística em si não mudou muito porque agora os sepultamentos precisam ser rápidos. Não pode ser extenso por conta das orientações. Fica mais a correria para dar conta de tantos casos”, explica Marcelo.
Procurada, a Secretaria Municipal da Ordem Pública (Semop) informou que de abril, mês em que a primeira morte por coronavírus foi registrada na cidade aconteceu, até este mês de junho foram 494 sepultamentos de vítimas de covid-19 nos cemitérios municipais. No mesmo período, o município ainda teve outros 1.185 velórios de causas diversas.
Cuidados
Desde o dia 9 de março deste ano a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) deixa disponível uma nota técnica com orientações em relação ao manejo de óbitos em domicílio, instituições de moradia, unidades hospitalares, espaços públicos e funerárias após a morte no período desta pandemia.
No documento, a Sesab orienta que não devem acontecer velórios em domicílios com o objetivo de evitar aglomeração de pessoas e também afirma que “os ambientes e objetos com os quais o falecido teve contato deverão ser desinfetados com água sanitária a 0,5% ou 1% ou álcool 70%”.
A infectologista Melissa Falcão explicou ao CORREIO que é arriscado deixar vítimas fatais da covid-19 com caixão aberto porque mesmo após o óbito o paciente infectado ainda pode transmitir o vírus para pessoas que entrem em contato com o cadáver.
“O corpo ainda pode armazenar o vírus depois do óbito e transmitir a doença para outras pessoas através da secreção. Os familiares não devem entrar em contato com o corpo mesmo após a morte do paciente”, afirmou.
Por se tratar de uma doença nova, a medicina ainda não sabe precisar por quanto tempo após a morte a vítima da covid-19 carrega o vírus ou pode infectar quem entre em contato com o corpo.(corrio24horas.com.br)