‘Há um ano enterrei minha mãe, agora meu pai’, diz filha de morto em acidente
Quando começava a superar a morte da mãe, a técnica de enfermagem Iranesa Bonfim dos Santos, 36 anos, teve a cicatriz aberta.”Há um ano enterrei minha mãe e agora meu pai”, disse ela, ao descer a rampa do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR) para liberar o corpo do funcionário terceirizado do Porto, Florisvaldo Ramos dos Santos, 64. Uma empilhadeira caiu sobre ele na noite desta quarta-feira (6). “Estou revivendo tudo. Venho trabalhando em mim a ausência de minha mãe. Quando estava indo bem na terapia, acontece isso”, completou ela emocionada.
Florisvado morava com a esposa na cidade de Amélia Rodrigues, mas permanecia em Salvador durante a semana por causa do trabalho no Porto, onde estava há cerca de 30 anos. “Ele estava aposentado, mas amava trabalhar. Não gostava de ficar parado e ele adorava o que fazia”, relatou a filha.
(Foto: Reprodução) |
O acidente aconteceu por volta das 23h30, mas Iranesa só tomou conhecimento da tragédia na manhã desta quarta, quando deixou o hospital onde trabalha. “Comecei a receber várias mensagens e ligações, mas, como estava trabalhando e não é permitido o uso de celular, só vi hoje, depois que saí, que as pessoas perguntam pelo meu pai, mas não diziam o que havia acontecido. Depois meu tio ligou dizendo que houve um acidente lá com um operário de Amélia Rodrigues. Meu coração gelou. Em seguida, recebi a ligação da empresa comunicando o acidente”, disse ela.
Iranesa disse que faltou clareza da empresa sobre o ocorrido com Florisvado. “Eles disseram apenas que o meu pai havia tocado na empilhadeira em pleno funcionamento e que em seguida ele caiu debaixo da empilhadeira. Mas o colega dele que viu tudo contou mais coisa”, contou ela, fazendo referência às declarações do colega de trabalho do pai.
O trabalhador Edmilton Ferreira, citado pela filha da vítima, viu o acidente. “A empilhadeira saiu de frente, quando deveria sair de ré e por isso ele (operador) não viu para a carga tampava a visão dele”, conta o portuário.
Ele disse ainda que a situação foi muito rápida. “Não dá tempo para a gente gritar, pois acidentes na Codeba é morte garantida”, completou. Mas a morte do colega abalou a todos no local.
Edmilton era amigo de Florisvaldo e viu a tragédia (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) |
“Nós não éramos colegas. Éramos irmãos. Entramos juntos. Ele me chamava de meu recém-nascico, porque ele gostava de ser o paizão de todos. Todo mundo chorou lá dentro”, contou.
Em nota, a Codeba informou que o acidente aconteceu por volta das 23h30, durante uma operação de embarque de celulose.
A companhia disse ainda que as causas do acidente estão sendo apuradas pelo Orgão Gestor de Mão-de-Obra do Trabalho Portuário, e lamentou a morte do funcionário. “A Codeba lamenta profundamente o ocorrido e se solidariza com familiares e colegas do trabalhador portuário Florisvaldo Ramos dos Santos”, diz outro trecho da nota.