A Operação Faroeste e a longa lista de indefensáveis
O potencial inflamável das revelações que a Operação Faroeste vai aos poucos trazendo à superfície deve, mais dia menos dia, encontrar seu veio político. E ele deve desaguar, primeiro, no PT da Bahia, embora, enquanto partido, ele não esteja sozinho nesta triste paisagem. Mas é inevitável.
Fora do Judiciário, onde já foram presas quatro desembargadoras e um punhado de outros magistrados afastados, são os tentáculos institucionais do partido que aparecem no abate de duas figuras de proa sob escrutínio da primeira e maior operação contra a corrupção já realizada na Bahia, tendo como eixo o Tribunal de Justiça.
A trajetória do secretário estadual de Segurança Pública, Maurício Barbosa, começa praticamente com a ascensão do PT ao poder no Estado. Da mesma forma, a ex-chefe do MP baiano, Ediene Lousado, é um subproduto do domínio que o partido do ex-presidente Lula exerce na política baiana há pelo menos 14 anos.
Onde estiveram, primeiro, o ex-governador e senador Jaques Wagner e, hoje, o governador Rui Costa durante todo esse tempo que não viram nada do que pessoas legitimadas politicamente pelo seu poder discricionário estavam perpetrando? Como Lula, simplesmente não sabiam ou não viam nada?
Há uma gravíssima revelação em meio às acusações aterradoras que o Ministério Público Federal faz contra as verdadeiras gangues que, ocupando postos chaves no Judiciário, no Ministério Público e na Polícia, levaram os mecanismos de controle e o sistema de justiça da Bahia à sua mais completa degradação.
Ela dá conta de que, sem apoio para denunciar os desmandos de que se viam vítimas à classe política baiana, incluídos aí governo e também a oposição, os produtores do Oeste, usando suas conexões de origem com o Sul, recorreram a representantes daquela banda do país para torná-los públicos.
Teria sido, assim, portanto, através da atuação de políticos sulistas, que as denúncias chegaram ao MPF, levando finalmente à deflagração da operação contra o – agora começa a se ver – poderoso e organizado esquema de grilagem de terras por meio de vendas de sentenças na Bahia.
Confirmando a tese, de fato, não existe um discurso, um registro político sequer na Bahia contra a violência, com mortes, inclusive, que se praticava no Oeste. A região foi transformada todo esse tempo numa terra sem lei pelos homens e mulheres da lei, em decorrência de conluio ou, no mínimo, de conivência entre parcelas do Judiciário, do Legislativo e do Executivo.
Atividade criminosa, aliás, contra o trabalho duro sobre a terra desenvolvido pelo agronegócio, setor que ainda sustenta a economia mambembe do Brasil e impulsiona a do Estado. Na última sentença que afastou Barbosa e Ediene de suas posições de pleno poder e, evidentemente, de privilégios desmedidos, Og dá uma pista sobre o que está por vir.
Refere-se, por exemplo, a operações realizadas pela SSP na Bahia, desenhando uma espécie de caminho por onde, esgotadas as possibilidades que as investigações da Faroeste devem permitir, as apurações poderão continuar. É assustador, mas os primeiros elementos permitem especular.
Estaria a grilagem de terras no Oeste para o PT da Bahia do mesmo jeito que a Petrobras esteve para o PT de Lula? Seria a Faroeste um congênere regional da Lava Jato? Tudo é possível diante de tamanho grau de degeneração. De cara, pelo menos, a Faroeste já desponta com uma imensa e significativa vantagem.
Iniciou desbaratando a engrenagem corrupta de um Judiciário carcomido cujas histórias de atropelo à ética foram, ao longo dos últimos tempos, apenas aumentando, tarefa que a Lava Jato não fez nem conseguirá mais fazer, já que seu fim foi decretado pela gestão de Jair Bolsonaro.
Essa história, como tantas outras de corrupção no país, leva naturalmente à discussão quanto à importância de uma reforma moral do Estado brasileiro, exercício no qual tem falhado a classe política, já que encarregada, pelo menos no papel, de fazer, nele, a representação da sociedade que a elege.
Mais uma vez, é de um órgão de controle, o Ministério Público Federal, que brota a iniciativa, da mesma forma que aconteceu na Lava Jato. Por este motivo, não há como o PT da Bahia fugir das cobranças que lhe farão, sobretudo, em 2022. Será este o Estado que vai legar ao baiano, em que a omissão ou a leniência deram criminosamente as cartas?
Nestas bandas, talvez tenha sorte, no entanto, o partido de Lula porque não esteve sozinho no papel de não perceber que a criminalidade se impôs às instituições, embora ainda reste à oposição a justificativa, que pode não convencer, de que, sob um tal quadro de insegurança jurídica e policial, não tinha a menor condição de enfrentá-la.(https://politicalivre.com.)